quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Prós e Contras - O casamento homossexual

Casamento homossexual hoje no Prós e Contras

Para ser possível acolher os outros não basta tolerar as diferenças. Desse modo apenas conseguiremos ter boas maneiras, enquanto que no nosso íntimo continuamos a julgar-nos superiores aos outros. O diálogo é um convite à conversão, à revisão das nossas convicções. Não se dialoga quando se está apenas interessado em demonstrar a validade das próprias convicções, sem abertura para acolher as dos outros, antes com receio de o fazer, por com isso poder dar a ideia de ter falta de carácter. De uma forma geral diz-se “tolerante” o que faz parte da maioria social, sendo as minorias apenas “toleradas”.
O programa de hoje foi um convite à abertura ao “outro” ao diferente, às suas razões e convicções. O que está em causa mesmo é que esta minoria exige ser tratada como igual, reclama o direito à liberdade dos seus afectos e da sua sexualidade.

“E não era pecado
pecado original, a solidão - ,
era a surpresa perecível de amar.”
António Osório, Adão, Eva e o Mais

A família é uma resposta dos homens à solidão e à necessidade de protecção, uma recusa ao acaso das relações com o outro, uma forma de providenciar protecção das crianças, uma forma de poder melhor responder às necessidades de trabalho e subsistência, um entendimento entre duas pessoas que, ficando juntas, desenvolvem interesses comuns e que, por serem comuns, são mais facilmente realizáveis e passíveis de preservar. É, em suma, a forma mais corrente e primeira, de organização e associação humanas. Porque a família responde a necessidades e as necessidades mudam e evoluem, ela naturalmente tem evoluído e assim terá necessariamente de continuar a verificar-se, enquanto os homens sentirem que vivem melhor acompanhados do que sozinhos.
Só a partir do Sec. XVII é que o casamento se transformou numa instituição e adquiriu para a Igreja Católica, com o Papa Paulo V, o valor de sacramento, passando o padre a ser o único oficiante autorizado da celebração. Mas, pelo facto de passar a ser mais ritualizado e sacramentalizado não deixou de ser como anteriormente, um contracto, um negócio entre famílias, que exactamente pela sua importância como contracto, necessitava de ser controlado e regulado.
Bourdieu defende que a ordem social tende a ratificar a dominação masculina em que assenta, e que o casamento é um dos aspectos da vida onde esta dominação se manifesta e da qual se alimenta. Não admira que tivéssemos visto só homens manifestando-se “contra”. No fundo já estão a antever mais um abanão na dominação masculina da sociedade.
O mundo de hoje tornou-se imprevisível e impessoal. O amor e a intimidade passam a fazer parte das expectativas de realização dos indivíduos. O casamento ou a união com outro, tende a deixar de ser um negócio que obedece a razões meramente económicas ou de comodidade, para encetar o caminho da relação pura. Impôs-se o fascínio do amor, por permitir o milagre da não violência, do reconhecimento mútuo, do desinteresse e da possibilidade da entrega mútua. O amor como meio para a instauração de uma nova comunidade, de uma nova convivência.
Com esta nova perspectiva, novas formas de conjugalidade aparecem e coexistem porque as pessoas lutam pela sua felicidade e as leis são feitas pelas e para as pessoas.
Trezentos anos antes, já Rousseau escrevia no Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens : “ De sorte que, como para estabelecer a escravidão foi preciso fazer violência à natureza, também foi preciso mudá-la para perpetuar esse direito: e os jurisconsultos que pronunciaram gravemente que o filho de um escravo nasceria escravo decidiram, em outros termos, que um homem não nasceria homem. ” ... “ Começa-se por investigar as regras pelas quais, para utilidade comum, seria bom que os homens concordassem entre si; e, depois, dá-se o nome de lei natural à colecção dessas regras, sem outra prova além do bem que se julga resultar de sua prática universal."
E recordo ainda Khalil Gibran e as suas palavras sobre as leis :
...."Que pensar do boi
que gosta do seu jugo
e julga que o gamo e o alce
da floresta
são coisas perdidas e vagabundas?
Que pensar da velha serpente
que não é capaz de deitar fora a pele,
e qualifica todas as outras
de nuas e despudoradas?
......
Que direi destes, a não ser
que também eles estão na luz,
mas de costas voltadas ao sol?
Vêem apenas as sombras,
e as suas sombras são as suas leis.
E o que é o sol para eles
senão um criador de sombras?
E que é reconhecer as leis
senão inclinar-se
e traçar as próprias sombras na terra?

Vós que caminhais voltados para o sol,
que imagens reflectidas na terra
são capazes de vos reter?"


Khalil Gibran “O Profeta

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

O Amor

Pablo Neruda - Poemas de Amor



Soneto 44 De Pablo Neruda(100 Sonetos De Amor)

Sabrás que no te amo y que te amo
puesto que de dos modos es la vida,
la palabra es un ala del silencio
el fuego tiene una mitad de frío.

Yo te amo para comenzar a amarte,
para recomenzar el infinito
y para no dejar de amarte nunca:
por eso no te amo todavía.

Te amo y no te amo,
como si tuviera en mis manos las llaves de la dicha
y un incierto destino desdichado.

Mi amor tiene dos vidas para amarte.
Por eso te amo cuando no te amo
y por eso te amo cuando te amo.


quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Koala ou meu irmão koala ?

Foto de Mark Pardu
Austrália e o horror dos fogos.
A Solidariedade do bombeiro para o pequeno Koala!

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

A crise

Análise da Sociedade Portuguesa
  • Podia ser de hoje, com poucas diferenças, mas este texto foi escrito em Junho 2005


Desemprego anunciado

Recebo todos os meses uma newsletter sobre tendências do consumo. A deste mês, Junho de 2005, era essencialmente sobre os nichos de mercado, sobre o fim do consumo de massas, sobre o primado do consumidor num mundo ocidental onde há excesso. Este tipo de fins anunciados exercem sobre muita gente um efeito de cataclismo previsível e ao qual é impossível escapar.
Sempre que surge uma novidade tecnológica, científica, social, política, anuncia-se o fim de qualquer coisa, como se essa novidade destronasse radical e imediatamente o que estava em uso, ao qual não resta outra opção senão sumir-se, como se fosse possível cortar assim com o passado. Quando a televisão surgiu anunciou-se o fim do cinema, o fim da rádio. Passaram décadas e o cinema aí continua bem vivo, com as suas sessões de Óscares e a rádio continua a acordar-nos e a ser a nossa companhia nas viagens de automóvel; deixaram de ter exclusividade, foram forçados a adaptar-se. Com a Internet anunciou-se o fim dos livros e das livrarias; e houve lugar para se formar a Amazon.com.
Como diz Karl Popper, “nós criamo-nos a nós mesmos através da invenção da linguagem especificamente humana”. A linguagem cria a realidade, se nos deixarmos empurrar por ela, acreditando que o que se diz que vai acontecer, já é. Para Popper “a actividade, a desordem, a procura, é essencial à vida ".
Vem isto a propósito da abertura das fronteiras à China e do fim, anunciado há 10 anos, para os têxteis portugueses. Com certeza que não só para os têxteis, porque um elefante daquele tamanho, ao entrar num charquito como é a Europa, pode bem esvaziá-lo, se em todo o lado o processo tiver o tratamento que tem tido em Portugal. Ou seja, não escaparão os fabricantes de telemóveis suecos, nem os agricultores franceses, nem os construtores de automóveis alemães ou os relojoeiros suíços, a menos que já se tenham deslocalizado e estejam a fabricar lá. Assim sendo, talvez mantenham o negócio, mas não os postos de trabalho aqui na Europa. E à China podemos juntar a Coreia, o Taiwan e o Japão. Trabalho só existirá no Oriente. Mas como só o trabalho gera riqueza, na Europa restarão muito poucos ricos (os donos do capital que se deslocalizaram) e tão poucos serão, que este mercado deixará de ter interesse para aqueles Mamuts .
Grande parte dos portugueses, em virtude dos governos que têm tido e por força dos meios de comunicação, andam assarapantados e estão imobilizados, à espera que D. Sebastião saia do nevoeiro para lhes apontar o caminho que devem seguir. Como em 1871 dizia Antero de Quental ”é o abatimento, a prostração do espírito nacional. Acostumado o povo a servir, quebrou a energia das vontades, adormeceu a iniciativa”.
Qual nicho de mercado, qual estratégia possível ! Até os universitários, que supostamente sairão das universidades razoavelmente bem preparados para trabalhar e serem agentes modificadores do meio-ambiente, até esses, que estão a ser armados com a única armadura resistente para o nosso tempo, que estão a ser dotados de uma herança não perecível, os nossos jovens, a quem normalmente era necessário recomendar prudência, por lhes ser natural o gosto pelo risco, até eles estão aterrados, com medo de não arranjar trabalho, já mentalmente convencidos que o futuro será pior do que o passado.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Les Feuilles Mortes - Kiri Te Kanawa

huó dào lǎo, xué dào lǎo

Aprendizagem ao longo da vida significa também ter a coragem de aprender chinês "after sixty". Eu não tenho, mas há quem tenha,quem tenha partilhado isto comigo e disso aqui vou deixar o meu testemunho de pastora, que tem notícias de outras gentes e de outros sítios.

huó dào lǎo, xué dào lǎo

à letra: viver para chegar a velho, aprender para chegar a sábio

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

O estranho caso de Benjamin Button



O filme começa e termina numa "maison de retraite" onde Benjamim é acolhido. Pouca diferença entre os cuidados de que precisa um recém nascido e um idoso. A primeira infância e a grande velhice têm muito em comum, nas capacidades físicas e psíquicas de corpos que diferem no aspecto físico. Talvez fosse melhor se, como no filme, fizéssemos o percurso ao contrário, terminando como bébés rechonchudos.

Quanto nos custa aceitar que, se duramos mais, acabaremos de fraldas, como é claramente dito no filme.
Quanto precisamos de pensar e de trabalhar na "maison de retraite" que sonhamos ou,...a que em vez de sonho chamamos pesadelo?

Aceitar o ciclo da vida significa preparar. Continuar a preparar após a reforma. Preparar o envelhecimento infalível, preparar o sítio onde
hoje nos parece que gostaríamos de terminar. De preferência embalados, como Benjamin Button !
Mas para isso é preciso planear.

Vejam o filme meus contemporâneos e ... vamos lá dar as mãos.

Envelhecer


Simonne de Beauvoir morreu há mais de 20 anos. A questão da velhice é mais do que nunca actual.