quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Vestir-se



Nestes dias de calor, vestir seja o que for é sacrifício.
Vestir-se é um acto mediador do modo como o “eu” se apresenta no mundo e, a reacção do mundo, depende não só da forma que escolhemos para essa mediação, como das normas culturais vigentes e das expectativas sociais relativamente à situação concreta. Vestir-se, requer uma complexa teia de conhecimentos para que o resultado seja satisfatório para o próprio e para os outros.
Quando está este calor, deviamos saber vestir-nos de luz.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

San Suu Kyi e os tiranos


«Não é o poder que corrompe mas o medo. O medo de perder o poder corrompe aqueles que o detêm e o medo das sevícias do poder corrompe aqueles que lhe estão sujeitos.» San Suu Kyi

Presa há mais de 13 anos, esta lutadora pela democracia, que ganhou em 1990 o prémio Rafto e o Prémio Sakharov Pela Liberdade de Pensamento e em 1991 o Prémio Nobel da Paz, acaba de ser de novo condenada a mais 18 meses de prisão por falso testemunho.
Ela não tem medo, mas o mundo tem medo de interceder por ela. Durante o nazismo eram muitos os que sabiam e nada fizeram . Devem ser os cidadãos a unir-se e a dar força aos governos para se oporem.
Se queres associar-te ao protesto vai a:

http://www.avaaz.org/en/jail_the_generals

e assina a petição. Fazemos pouco, mas aquilo que fazemos faz toda a diferença.Hoje por ela, amanhã por nós.

domingo, 2 de agosto de 2009

Lar de Idosos em Belmonte

"Ao lado do bem individual, existe um bem ligado à vida social das pessoas: o bem comum. É o bem daquele « nós-todos », formado por indivíduos, famílias e grupos intermédios que se unem em comunidade social." Bento XVI - Carta Encíclica Caritas in Veritate

Levei hoje ao Lar de Belmonte,uma Senhora com 94 anos, toda curvadinha ,mas bonita e corajosa para se atrever a fazer a viagem para ir visitar uma prima direita, criadas como se irmãs fossem, e que ali está recolhida.

Hoje dia 2 de Agosto, pleno Verão do ano 2009.

Chegámos a Belmonte pelas 16h30 com o calor próprio da hora e da data. Procurámos onde era o Lar e lá chegámos. Descemos a rampa ajudada a Senhora pelo meu braço e pela sua bengalinha. Já eram então 17h30. Depois de alguns minutos de troca de palavras com as pessoas que ali se encontravam, na maioria idosos, fomo-nos apercebendo que a hora da visita já tinha terminado. Pedi então a uma funcionária que permitissem que a Senhora saudasse a sua prima, que lhe fosse permitido "ao menos dar-lhe um beijo" como ela pedia. Lá me informou que a Senhora internada tinha ido para a cama às 17h00 (de uma clara tarde de Verão) e que ia chamar um enfermeiro, que estava ocupado e viria dentro de um bocadinho. Deixei a Senhora sentada na entrada e fui visitar o Museu. Voltei passado meia hora. A visita não tinha sido autorizada. Insisti. Com aquela força que nos dá a caridade - palavra estafada e à qual Bento XVI pretende restituir os eu verdadeiro significado, o amor, o amor pelo outro, amor que é justiça.

"Nada, não há excepções"- não interessa a idade da visitante, nem a dificuldade em se deslocar ,cumpre-se o regulamento. Um Regulamento feito em nome das Pessoas, contra elas ! Um Regulamento que não admite excepções! Um Regulamento de um "LAR", ou de uma "PENITENCIÁRIA" ?

-"Ao que chegamos", dizia a Senhora quando infinitamente triste e com a boca amarga se retirava da Instituição. Deveria dizer antes " onde ainda estamos no tratamento dos idosos"!!! Será difícil imaginar a importância que tem ver um familiar ou um amigo quando se tem 94 anos?

É em defesa do Bem-Comum que denuncio a situação. Estavam comigo duas amigas que ficaram igualmente chocadas. E lá pensámos todas, o que vai ser de nós, se chegarmos a necessitar de um internamento numa tal instituição. Eu acho que preferirei a berma da estrada, pelo menos toda a gente me verá e sempre pode passar um bom samaritano.

Os utentes deste como dos outros lares vivem aterrorizados de medo. Com os seus familiares passa-se exactamente o mesmo - dependem da boa vontade de quem ali manda, não vão as represálias fazer-se sentir sobre o seu idoso ou não lhe entre o mesmo pela porta da sua casa adentro. Foi assim que se permitiu que Hitler dominasse. Cada um tinha medo e pensava que talvez as coisas ficassem pelos outros desde que colaborassem.

Senhor Provedor daquela Santa Casa da Misericórdia - saberá o que quer dizer Misericórdia? O senhor quer submeter-se a este Regulamento quando for velho e sem ninguém para lhe valer?

Enquanto não vemos que "o outro" "sou eu", só enxergamos o nosso umbigo. E queremos ordem e em nome da ordem deixamos de ser Homens. Deixo-lhe a si a escolha daquilo em que nos transformamos.