quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Crise e Produtividade

Encontrei agora, numa arrumação de escritos, um dos meus desabafos feitos em 2011 e, por lhe reconhecer actualidade e porque a forma de gerir em Portugal não é exclusiva de uma firma, (antes o fosse), aqui fica no ar e  registado.
Muitas das nossas PMEs não têm quem saiba de produtividade, nem quem esteja disponível para sugerir melhoria de processos, muito menos graciosamente. Mas, as que têm, não estão abertas a progressos nem a sugestões. É o ram-ram que permite continuar a pagar os salários sem chegar para o resto dos gastos sobretudo para pagar ao Estado. 


 30 de Novembro de 2011


Os momentos de crise geral sempre foram e continuarão a ser janelas de oportunidade para alguns que as conseguem aproveitar.

Este tempo de crise contínua e que parece sem expectativas quanto ao futuro, também irá conduzir a um futuro, ainda que seja dificil adivinhá-lo.
Neste momento, o que parece é que os países vão ter que aproveitar todos os seus recursos, importando o menos possível e favorecendo os produtos nacionais, enquanto não for viável, se o for, construir uma nova União Europeia, assente noutras bases de solidariedade e com directivas comuns na economia e nas finanças. Sem isso, parece que não haverá outro remédio senão cada um equilibrar as suas finanças internamente, como se não fizesse parte da tal União que é pouco unida, usando leis diferentes conforme os países.

Muitas firmas fecharam. Muitas continuarão a fechar, sobrevivendo apenas as que tiverem uma boa estratégia de produção. Isso significa uma produção que corre sobre rodas e sem desperdícios. Por desperdícios entende-se o melhor aproveitamento das instalações, o melhor aproveitamento do pessoal e o melhor aproveitamento das matérias primas e outros consumos. Quando um trabalhador, por falta de ferramentas ou por desleixo, larga a peça que produz de uma forma não estudada nem planeada mas ao acaso, para que essa peça venha a entrar de novo no circuito produtivo, seja para uma operação subsequente seja para uma revista e embalagem, essa peça que foi largada ao acaso terá que ser endireitada pela nova operadora, com custos adicionais e de qualidade. A produção tem que seguir de uma forma pensada, económica e com a finalidade de se obter a máxima perfeição à primeira.
Uma produção assim, implica limpeza e arrumação, significa que o que entrou em linha saiu e ao que não saiu se deu solução imediata. Pegar nas peças duas vezes custa dinheiro e diminui o ritmo de produção. Largá-las num monte, não conduz a qualquer solução, estorva a circulação, custa dinheiro de armazenagem. Desculpam-se normalmente as pessoas responsáveis, com frases do tipo “agora temos muito que fazer” , “quando puder já vou ver o que posso fazer” ou outras semelhantes. Ora isto é totalmente errado porque a produção deve ter instruções para as excepções, que sempre existem, instruções que não dependem da decisão de ninguém exterior.

Tornei público há cerca de um mês que a produtividade de uma fábrica onde vou de vez em quando, se aumenta com facilidade em 20%. Tal aumento significa algumas pequenas ferramentas, que é preciso implementar e regras para o fluxo de produção que, como não pode deixar de ser, partem do principio de que tudo está limpo, arrumado e no seu lugar. Como às vezes uma fotografia tem o condão de nos mostrar aquilo que os nossos olhos, mais dispersos, não conseguem ver, vou fazer algumas fotos para explicar melhor as dificuldades. 


Foi isso que fiz. Claro escandalizou bastante toda a gente, mesmo o pessoal fabril que pensava que iria sofrer represálias. E, contudo, nenhumas medidas foram implementadas por falta de determinação e vontade. Assim vai o país e a crise.

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Com sorte todos vamos ser idosos. Queremos ser descartáveis?

Como chegámos aqui?
Primeiro foi o acabar com as manifestações de amor: o cumprimento, o beijo, o abraço, sim o abraço,  que bom que é um abraço e que raro e estranho ele é. Mesmo coisa de gente doutra época, de retardados.
Depois foi o acabar com os sentimentos: não sofras porque não estão juntos, deixa cada um fazer a sua vida, nunca, nunca se intrometer. As visitas escasseiam, o trabalho é muito, o tempo não chega, as pessoas separam-se e ...é natural que este idoso do filme não reconheça (ou não queira reconhecer) o filho. Para ele o filho não pode ser este estranho que vai ali uma ou duas vezes por ano, com os minutos contados, ansioso por se ir embora. Claro que não, este não é filho, nem o idoso é sequer o seu próximo.
A seguir reprimimos as lágrimas pela morte dos nossos pais, filhos, entes queridos. Chorar é não saber comportar-se. Mas das carpideiras aos funerais rápidos das agências funerárias chegámos em meio século. Agora a produtividade também chegou às agências funerárias. Afinal um morto é um morto, para que serve?

E pensar que há tanta gente que adora o seu animal de casa e que o trata do mesmo modo que deveria tratar os seus filhos ou idosos.


      https://www.youtube.com/watch?v=S09zpRXm1U8