segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Prós e Contras - O casamento homossexual

Casamento homossexual hoje no Prós e Contras

Para ser possível acolher os outros não basta tolerar as diferenças. Desse modo apenas conseguiremos ter boas maneiras, enquanto que no nosso íntimo continuamos a julgar-nos superiores aos outros. O diálogo é um convite à conversão, à revisão das nossas convicções. Não se dialoga quando se está apenas interessado em demonstrar a validade das próprias convicções, sem abertura para acolher as dos outros, antes com receio de o fazer, por com isso poder dar a ideia de ter falta de carácter. De uma forma geral diz-se “tolerante” o que faz parte da maioria social, sendo as minorias apenas “toleradas”.
O programa de hoje foi um convite à abertura ao “outro” ao diferente, às suas razões e convicções. O que está em causa mesmo é que esta minoria exige ser tratada como igual, reclama o direito à liberdade dos seus afectos e da sua sexualidade.

“E não era pecado
pecado original, a solidão - ,
era a surpresa perecível de amar.”
António Osório, Adão, Eva e o Mais

A família é uma resposta dos homens à solidão e à necessidade de protecção, uma recusa ao acaso das relações com o outro, uma forma de providenciar protecção das crianças, uma forma de poder melhor responder às necessidades de trabalho e subsistência, um entendimento entre duas pessoas que, ficando juntas, desenvolvem interesses comuns e que, por serem comuns, são mais facilmente realizáveis e passíveis de preservar. É, em suma, a forma mais corrente e primeira, de organização e associação humanas. Porque a família responde a necessidades e as necessidades mudam e evoluem, ela naturalmente tem evoluído e assim terá necessariamente de continuar a verificar-se, enquanto os homens sentirem que vivem melhor acompanhados do que sozinhos.
Só a partir do Sec. XVII é que o casamento se transformou numa instituição e adquiriu para a Igreja Católica, com o Papa Paulo V, o valor de sacramento, passando o padre a ser o único oficiante autorizado da celebração. Mas, pelo facto de passar a ser mais ritualizado e sacramentalizado não deixou de ser como anteriormente, um contracto, um negócio entre famílias, que exactamente pela sua importância como contracto, necessitava de ser controlado e regulado.
Bourdieu defende que a ordem social tende a ratificar a dominação masculina em que assenta, e que o casamento é um dos aspectos da vida onde esta dominação se manifesta e da qual se alimenta. Não admira que tivéssemos visto só homens manifestando-se “contra”. No fundo já estão a antever mais um abanão na dominação masculina da sociedade.
O mundo de hoje tornou-se imprevisível e impessoal. O amor e a intimidade passam a fazer parte das expectativas de realização dos indivíduos. O casamento ou a união com outro, tende a deixar de ser um negócio que obedece a razões meramente económicas ou de comodidade, para encetar o caminho da relação pura. Impôs-se o fascínio do amor, por permitir o milagre da não violência, do reconhecimento mútuo, do desinteresse e da possibilidade da entrega mútua. O amor como meio para a instauração de uma nova comunidade, de uma nova convivência.
Com esta nova perspectiva, novas formas de conjugalidade aparecem e coexistem porque as pessoas lutam pela sua felicidade e as leis são feitas pelas e para as pessoas.
Trezentos anos antes, já Rousseau escrevia no Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens : “ De sorte que, como para estabelecer a escravidão foi preciso fazer violência à natureza, também foi preciso mudá-la para perpetuar esse direito: e os jurisconsultos que pronunciaram gravemente que o filho de um escravo nasceria escravo decidiram, em outros termos, que um homem não nasceria homem. ” ... “ Começa-se por investigar as regras pelas quais, para utilidade comum, seria bom que os homens concordassem entre si; e, depois, dá-se o nome de lei natural à colecção dessas regras, sem outra prova além do bem que se julga resultar de sua prática universal."
E recordo ainda Khalil Gibran e as suas palavras sobre as leis :
...."Que pensar do boi
que gosta do seu jugo
e julga que o gamo e o alce
da floresta
são coisas perdidas e vagabundas?
Que pensar da velha serpente
que não é capaz de deitar fora a pele,
e qualifica todas as outras
de nuas e despudoradas?
......
Que direi destes, a não ser
que também eles estão na luz,
mas de costas voltadas ao sol?
Vêem apenas as sombras,
e as suas sombras são as suas leis.
E o que é o sol para eles
senão um criador de sombras?
E que é reconhecer as leis
senão inclinar-se
e traçar as próprias sombras na terra?

Vós que caminhais voltados para o sol,
que imagens reflectidas na terra
são capazes de vos reter?"


Khalil Gibran “O Profeta

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